
Introdução
Nos últimos anos, dois medicamentos ganharam enorme destaque no tratamento da obesidade: o Ozempic (semaglutida) e o Mounjaro (tirzepatida).
Inicialmente desenvolvidos para diabetes tipo 2, hoje são reconhecidos como ferramentas eficazes para auxiliar na redução de peso.
Mas afinal, como funcionam? Quem pode beneficiar? Quais os riscos e limitações? Vamos explorar juntos, de forma simples e baseada na ciência.
Primeiro: obesidade é uma doença crónica
A obesidade não é “falta de força de vontade”. É uma condição crónica e multifatorial que envolve genética, hormonas, ambiente, sono, stress e hábitos de vida.
Por isso, faz sentido que o tratamento seja feito com uma equipa multidisciplinar: médico, nutricionista, psicólogo e profissional do exercício físico.
Os medicamentos podem ajudar muito, mas não substituem hábitos saudáveis. Funcionam melhor quando combinados com plano alimentar, atividade física e acompanhamento especializado.
Como cada um funciona?
Ozempic (semaglutida)
- Atua como um análogo do GLP-1, hormona que reduz o apetite, aumenta a saciedade e abranda o esvaziamento gástrico.
- Resultado: a pessoa sente-se satisfeita com porções menores e tende a comer menos.
Mounjaro (tirzepatida)
- É um medicamento de dupla ação, agindo nos recetores de GLP-1 e GIP.
- Essa combinação intensifica os efeitos no controlo do apetite e no metabolismo da glicose, promovendo reduções de peso ainda mais expressivas.
O que a ciência já mostrou?
- Ozempic (semaglutida): estudos apontam reduções de cerca de 15% do peso corporal em 68 semanas, quando associado a mudanças de estilo de vida.
- Mounjaro (tirzepatida): ensaios clínicos reportaram reduções de 15% a 20% ou mais do peso corporal, resultados próximos aos obtidos com cirurgia bariátrica em alguns casos.
Tradução prática: estes fármacos podem mudar o jogo, mas os resultados variam de pessoa para pessoa e a manutenção é fundamental.
Benefícios além da perda de peso
- Melhoria do controlo glicémico, especialmente em quem tem diabetes tipo 2.
- Redução de fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial e perfil lipídico.
- Mais saciedade e menor fome emocional, facilitando a adesão ao plano alimentar.
Efeitos adversos comuns
- Náuseas, vómitos, diarreia, obstipação ou azia, principalmente no início do tratamento.
- Na maioria dos casos, são transitórios e melhoram com ajuste gradual da dose e adaptação da alimentação.
Contraindicações e alertas:
- Histórico de carcinoma medular da tiroide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.
- Episódios prévios de pancreatite devem ser avaliados.
- Não recomendado em gravidez ou amamentação.
- Avaliar interações medicamentosas com o médico.
Quem pode beneficiar?
- Pessoas com IMC ≥ 30 (obesidade), ou IMC ≥ 27 com comorbilidades como diabetes tipo 2, hipertensão ou apneia do sono.
- Quem já tentou intervenções de estilo de vida com suporte profissional e precisa de ajuda adicional para atingir e manter objetivos.
- Pacientes com risco cardiometabólico elevado, nos quais a redução de peso traz benefícios clínicos claros.
A seleção deve ser individualizada. O que funciona para um paciente pode não ser o ideal para outro.
Expectativas reais
- Curto prazo (3–6 meses): foco em adaptação, redução gradual de sintomas e construção de hábitos.
- Médio prazo (6–12 meses): perdas médias de 10–15% (semaglutida) e 15–20% (tirzepatida), dependendo da dose e resposta individual.
- Longo prazo: a interrupção tende a levar ao reganho de peso, o que reforça a necessidade de manutenção com hábitos saudáveis e acompanhamento contínuo.
Como integrar na prática
- Titulação lenta para reduzir efeitos gastrointestinais.
- Plano alimentar saciante: proteína, fibra, gorduras de qualidade, hidratação.
- Gestão de sintomas: refeições menores, evitar excesso de gordura, mastigar devagar.
- Exercício físico: treino de força + cardio para preservar massa magra.
- Sono e stress: tão importantes quanto a alimentação.
- Acompanhamento regular para ajustes clínicos e nutricionais.
Conclusão
Ozempic e Mounjaro representam um avanço importante no tratamento da obesidade.
Em pessoas bem selecionadas, com acompanhamento profissional e mudanças de estilo de vida, podem levar a perdas significativas de peso e melhorias metabólicas relevantes.
Mas é fundamental reforçar:
- O uso exige prescrição e acompanhamento médico.
- O ideal é ter equipa multidisciplinar antes, durante e após o processo: médico, nutricionista, psicólogo e profissional do exercício físico.
- O nutricionista tem papel central para evitar o reganho de peso pós-desmame e guiar a reeducação alimentar durante o uso.
Em resumo: os medicamentos podem ser aliados poderosos, mas o sucesso a longo prazo depende de um plano integrado, personalizado e sustentável.
Referências
- Wilding JPH, et al. Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. NEJM (2021).
- Jastreboff AM, et al. Tirzepatide Once Weekly for the Treatment of Obesity. NEJM (2022).
- Organização Mundial da Saúde. Obesity and overweight.



